Daniela Torrente

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Mínima

Fomos atirados em um espaço de resolução mínima, 960 pontos que separam a entrega da imagem, o abraço que damos com os olhos e o som que sai de nossas bocas. Já se perguntou qual a definição de resolução? Já se perguntou sobre o peso da transmissão de um simples Oi pelos milhares de quilômetros de fibra óptica que cortam o pacíficio, da Europa às Américas? Qual a resolução mínima da interação pela distância?

Lugar por excelência do encontro hoje, lugar onde postulamos faturas que redefinem o sentido de tato perante a insegurança que nos aparta; um espaço de troca virtualizado pela desproporcional violência presente no mundo que habitamos; outros modos de definir toque em meio ao caos.

É na transmissão dessas imagens também que algo como palimpsestos são criados, ao modo que apagam e revelam partes de si para aqueles com escuta atenta, buscando construir um espaço de significação completa que raramente se efetiva; imagens que apontam para o mar e para o céu de um modo estranho, aludindo a objetos que entregamos ao vento e mensagens que nos trazem as ondas; paisagens que se esgotam intermitentemente, arrancando silêncios da arquitetura; outros modos de se entregar luz, uma vez que aqui ela é suspensa e retirada de sua função original; pequenas quimeras que apontam para a necessidade da construção de um novo imaginário que deriva da condição e denotação do conceito de trabalho, hoje; um embate entre o que é traço e o que é gesto se utiliza tanto do papel como do corpo enquanto sua arena; e movimentos e volumes que partem da boca aqui são, também, novas construções do que significa ser corpo ou fumaça; e o corpo também aqui é motivo de desaparecimento; ainda sobre aquilo que some, se desfacela, o que é próprio da história de um se apresenta ao lado dos seres cuja fome são seu motivo de extinção; e um atlas do ideal de corpo é tracejado pela geografia de sua própria farmácia doméstica; alguns ecossistemas também se constroem aqui, trazendo em peso um enunciado único que fala sobre sua autorização em se reproduzir; Alguém mente, mas não engana; uma forma em sua reprodução contínua se prepara para sua boda monozigótica; uma estrutura se denuncia por meio da sua própria arqueologia; uma paisagem se constrói; a responsabilidade sobre o corpo do outro se apresenta como dança; a ficção da modernidade se projeta bidimensional; linhas e volumes postulam uma outra possibilidade dos materiais e algo se apresenta para nós, falando sobre a iminência de sua desaparição.

Já se perguntou qual a definição de resolução? Há um sentido estranho que perpassa a construção dessas estórias, um sentido estranho que habita como se apresentam aqui. Nos perguntamos qual a inferência que fazemos dos 960 pontos que separam a entrega da imagem do abraço que damos com os olhos e o som que sai de nossas bocas. Fomos atirados em um espaço de resolução mínima. Ele não dá conta.

Guilherme Teixeira

Julho 2021

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